segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

A brevidade do tempo.

Algumas vezes, lugares familiares, perfumes, comidas e até mesmo a forma de falar evocam em nosso espirito algumas lembranças adormecidas, permite que a memória se apague, mas a despertam do torpor, assim se reanima a dor de quem sofre, mesmo que seja algo já adormecido pelo tempo.

Parece que a perdi há pouco tempo. Mas o que é esse pouco tempo se estou recordando? Há pouco tempo eu era menino sentado na escola, há pouco tempo eu comecei a discuti questões filosóficas. Há pouco tempo resolvi não questiona-las mais, há pouco tempo já não poderei mais faze-lo. Infinita é a velocidade do tempo, pois aos atentos ao presente engana, pois sorrateira é a sua asas para o além.

Há pouco tempo me despedi dela e há pouco tempo é uma boa parte da nossa existência, cuja breve duração, pensamos que nunca terminará.

Talvez, uma pessoa que desperdiça o seu tempo nunca esteve perto ou acompanhou alguém com depressão severa, síndrome do panico, distúrbio bipolar e que tentou se matar varias vezes. Nunca conheceu ou teve alguém na família vítima fatal em algum acidente de trânsito ou já passou pela experiência de sobreviver a um grave acidente e por meio dessas experiências, foi levado a refletir sobre as coisas que de fato importam na vida.

Pois é, quando alguém que amamos pode ser tirado de nós a qualquer momento o chão some dos nossos pés, o mundo desaba sobre as nossas cabeças... A brevidade da vida se apresenta, bagunçando nossa rotina, modificando nossos planos, roubando nosso sono, mudando nossa vida, nossa forma de ver a vida, nossa forma de viver a vida. Essa mudança tente em nos tornar humanos melhores...

O cronômetro foi acionado, a largada foi dada, nossa corrida contra o tempo está em plena atividade. Disparamos como bala de revólver, obstinados em alcançar o nosso alvo: prolongar os dias de vida. A batalha contra uma depressão severa desse porte é de fato árdua e nos toma por completo.

A guerra está declarada, estamos na luta pela vida. Tudo o que nos é possível está investido: nosso tempo, nossa força, nossos recursos financeiros, nossa crença e fé, nossa esperança, perseverança, confiança, nossa lágrima, nosso sorriso, nosso amor e afeto. E aquilo que aparentemente não está ao nosso alcance e que antes era impossível, hoje não é tão difícil assim. Recorremos a quem podemos, perdemos alguns medos e constrangimentos. Precisamos unir forças ao redor dessa causa.

Movemos o mundo para o alcance desse objetivo...e o final é uma caixinha de surpresa. Todo o esforço, todo o desespero, todo nossa força é sucumbida pelo tempo... e ali se finda os sonhos, os medos, as diferenças. E vemos o nosso sonho de um "ela está curada" escorrer entre os dedos da mão que se agarra a qualquer coisa que possa dar esperança.

As vezes, quando somos dilacerados por um infortúnio inesperado, a pessoa que amamos se vai, mas ela deixa mais do que lembranças. Ela nos faz perceber o que realmente importa. Hoje as pessoas me dizem: como você é inteligente, como você é entendido sobre a vida e sobre como ela funciona, como você sabe ver nas pessoas coisas que outras não veem...e elas me interpreta como afortunado, mas tudo isso foi um presente de uma pessoa amada que partiu, e junto com ela levou o meu medo de ser feliz.

Agora a rapidez do tempo parece incrível, seja por que percebo o fim que se aproxima, seja por que comecei a notar e fazer as contas das minhas perdas. Por isso me indigno com aqueles que desperdiçam com coisa fúteis a maioria desse tempo que já não é suficiente para as coisas necessárias mesmo se for usado com o máximo cuidado.

Jonatas Amaral



domingo, 1 de dezembro de 2019

Monstro

Primeiro de dezembro. É quase uma leveza dizer que o ano está acabando. É como se tivesse alta hospitalar depois de uma notícia de "você está curado", é como chegar ao destino depois de uma longa viagem sem nenhuma bagagem, uma viagem onde deixei tudo para trás. Nesse tudo está incluso algumas ilusões, onde trilhei por uma floresta de sombras e fui guiado por pequenos passos invisíveis de amor que me dava frio na barriga mesmo não sendo meu de verdade.

Há muito tempo venho alimentando um monstro horripilante que caminha junto a mim. O monstro se fez residente e robusto a ponto de tornar mais forte do que as somas de todas as minhas forças: A monstruosa ilusão.

Às vezes eu realmente odeio essa palavra. Ilusão. Principalmente quando alguém a atira na minha cara. Parece que as pessoas esqueceram como se brinca de faz-de-conta. Mas as vezes é o único elo entre mim e a realidade. O único motivo de manter os pés no chão e o sorriso no rosto.

Quando excluímos a ilusão da vida perfeita, do trabalho perfeito, da mulher perfeita só sobram imperfeições. E é nesse momento que descobri que a minha maior motivação é a busca pela perfeição, mesmo ela estando tão distante que eu precisaria de muitas vidas para possuí-la, tomá-la em meus braços e dizer: "tu és minha".

O que me faz acordar cedo, trabalhar, respeitar leis e condutas éticas e morais, não atravessar o semáforo vermelho, não jogar lixo na rua e acreditar que amanhã vai ser um dia melhor é justamente a ilusão. É algo que pode acabar aqui com um infarto agudo do miocárdio ou durante um assalto enquanto vou comprar os pães na padaria.

Mas na verdade é só ilusão. Onde está a realidade? O que é real? A vida é tão curta, tão passageira, tão frágil que qualquer pensamento de "ela é minha" é uma ilusão. É como uma miragem, uma lembrança, um sonho, que parece tão real e apaixonante no momento do sonho que experienciamos sensações e somos tão convictos da sua realidade, e depois de acordado, passamos algum tempo tentando recordá-lo, mas sequer lembramos - como esse ano - ontem mesmo era Janeiro e agora onde estão todos os dias que vivenciamos dentro desse ano?

O monstro e eu, aqui dentro desse peito nos misturamos. Vejo só uma ilusão de ótica, dois espelhos que refletem entre si a mesma imagem do infinito. Não busco mais a imagem original, ela foi devorada pelo monstro.

Jonatas Amaral






domingo, 24 de novembro de 2019

Um olhar panorâmico



"Existe muita coisa que não te disseram na escola: Cota não é esmola. Experimente nascer preto na favela pra você ver o que rola com preto e pobre e não aparece na tv." Letra e música de Bia Ferreira, uma cantora afrodescendente e multi-instrumentista brasileira que iniciou os estudos musicais quando criança e tomou os palcos aos 15 anos de idade, na cidade de Aracaju, Sergipe, onde foi criada por sua família.

Dito isso, enormes e tediosos estudos acadêmicos, bem como melancólicos e sombrios editoriais de determinados jornais, são produzidos às pencas lamentando o fato de que a maioria das pessoas pobres e negras não consegue ascender socialmente, e que isso seria uma fragorosa demonstração de discriminação.

O curioso é que, em vários países, inclusive naqueles chamados de terceiro mundo, vários imigrantes extremamente pobres, principalmente oriundos da Ásia, não apenas conseguem prosperar mesmo sendo de uma cultura totalmente distinta, como também conseguem enriquecer sem jamais recorrer a favores especiais e a políticas de ação afirmativa.

Normalmente, estes imigrantes asiáticos chegam a um novo país praticamente sem nenhum dinheiro, sem nenhum conhecimento do novo idioma e sem nenhuma afinidade cultural. Eles frequentemente começam trabalhando em empregos de baixa remuneração. Mas trabalham muito. A norma é trabalharem em mais de um emprego. Trabalham tanto que conseguem poupar e, após alguns anos, utilizam esta poupança para empreender. Muitos abrem um pequeno comércio, no qual continuam trabalhando longas horas e ainda continuam poupando, de modo que se tornam capazes de mandar seus filhos para a escola e para a faculdade. Seus filhos, por sua vez, sabem que seus pais não apenas esperam, como também exigem, que eles sejam igualmente disciplinados, bons alunos e trabalhadores.

Vários intelectuais já tentaram explicar por que os imigrantes asiáticos são tão bem-sucedidos tanto em termos educacionais quanto em termos econômicos. Frequentemente chega-se à conclusão de que eles possuem algumas características especiais. Isso pode ser verdade, mas seu sucesso também pode ser atribuído a algo que eles não têm: ‘líderes’ e autoproclamados porta-vozes lhes dizendo diariamente que são incapazes de prosperar por conta própria, que o sistema está contra eles, que eles não têm chance de ascender socialmente caso não sigam os slogans repetidos mecanicamente por estes líderes e sociólogos, e que por isso devem se juntar sob o rótulo de ‘vítimas do sistema’ e exigir políticas especiais e tratamento diferenciado.

Vá a qualquer país, seja ele rico ou em desenvolvimento, e pesquise sobre a existência de ‘líderes’ e de grupos de interesse voltados para a promoção de políticas de ação afirmativa para os asiáticos. Você não encontrará. Você não encontrará sociólogos dizendo que os imigrantes asiáticos, por serem minoria e por estarem culturalmente deslocados, estão em desvantagem e que por isso o governo deve criar leis de cotas para ajudá-los a ascender socialmente.

Infelizmente, é exatamente esta linha de raciocínio, só que em relação aos negros, que vem sendo diariamente propagada por acadêmicos e sociólogos irresponsáveis. Eles são a versão humana das leis da aerodinâmica, que dizem precipitadamente que determinadas pessoas não podem ascender e prosperar a menos que haja um empurrão do governo.

Aquelas alegações morais que foram feitas no passado por gerações de genuínos líderes negros — alegações que acabaram por tocar a consciência de várias nações e que viraram a maré em prol dos direitos civis para todos — hoje foram desvalorizadas e apequenadas por uma geração de intelectuais, sociólogos e autoproclamados ‘líderes’ de movimentos raciais que tratam os negros como seres abertamente incapazes de prosperar sem a ajuda destes pretensos humanistas, os quais agem abertamente de acordo com uma agenda política de escusos interesses próprios.

Independente de negros, brancos, ricos, pobres, mulheres ou homens, onde não há esforço jamais haverá sucesso. Quando entendemos que o sucesso só depende de nós mesmos independente das circunstancias exteriores, já andamos a metade do caminho.

Jonatas Amaral