Ela tinha um rostinho triste.
Tinha um amargo na alma que transparecia nos olhos. O semáforo passou do verde para o vermelho dando espaço para os pedestres atravessar a avenida. A menina do rostinho triste saltou da sombra do poste e avançou entre os carros, na mão segurava algumas balas que oferecia aos motoristas.
Tinha um amargo na alma que transparecia nos olhos. O semáforo passou do verde para o vermelho dando espaço para os pedestres atravessar a avenida. A menina do rostinho triste saltou da sombra do poste e avançou entre os carros, na mão segurava algumas balas que oferecia aos motoristas.
- Qual a capital do Mato Grosso?
- Mato Grosso, Cuiabá.
- Cuiabá, compre uma bala de maracujá!
- Qual a capital do Piauí?
- Piauí, Teresina!
- Teresina, compre uma bala de tangerina! Compre dez pague
oito, para que posso comprar um biscoito.
Aquilo chamou a atenção do homem. Passou a observar a menina do rostinho triste, mas o tempo passou e outras coisas ocuparam sua cabeça.
Com esse mesmo tempo surgiu problemas no fórum, em casa, na família, tantos desacertos na vida, o casamento desmoronando, o colesterol nas nuvens, estresse, então resolveu levar as ideias para passear, tirar o pó das opiniões, ventilar os pensamentos. Foi então que deparou com a menina do rostinho triste que vendia balas no semáforo.
Ela não o reconheceu.
- Qual a capital da Irlanda?
Diante da pergunta inesperada, a menina moveu os olhos para o desconhecido que a imitava e demorou um pouco a responder:
- Irlanda, Dublin.
- Muito bem. Dublin, eu pago um suco se você contar sua
mágoa pra mim.
Ela ficou desconcertada, o homem continuou: - Sabe, estou fazendo o caminho de São Judas, e ali tem um orfanato, acho que vou presentear os meninos de lá com seus doces. Quantos custam?
- Todos?
- Todos!
- Cinquenta Real!
O homem não pechinchou. Apenas tirou uma nota do bolso. Ela foi correndo buscar os doces que deixara na banca de revistas. Ele pagou e apanhou as sacolas de plásticos que continha as caixas de doces.
Ele ficou olhando perplexo para a menina das rimas que sorria daquele seu jeito triste.
Acabara o trabalho da semana. Estava contente, embora ainda
mantivesse um não sei que de amargura
nos fundos dos olhos. Ela dobrou a nota em oito, enfiou-a no bolso, agradeceu
dizendo tchau e partiu na direção do metrô Santa Cruz.
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